Inicialmente rejeitada pelo governo federal, a vacina da Pfizer representa 51% das doses distribuídas aos estados nos últimos dois meses, liderando as entregas da pasta em agosto e setembro.
 

Foram 60 milhões de doses neste período, sendo 26 milhões em agosto e 34 milhões em setembro. Em relação à Fiocruz/AstraZeneca, foram distribuídos 22 milhões de doses nos últimos dois meses. No mesmo período, foram 36 milhões do Instituto Butantan/Sinovac e 100 mil da Janssen.
 

O governo federal demorou sete meses para fechar contrato após a primeira oferta Pfizer, que previa que as primeiras entregas fossem feitas ainda em dezembro de 2020. Na verdade, aconteceram no final de abril de 2021.
 

A Pfizer teve ao menos 53 emails sem respostas por parte do governo, segundo o vice-presidente da comissão da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A demora foi motivo de investigação da comissão.
 

As correspondências foram direcionadas para todas as pessoas do alto escalão da Saúde na gestão do então ministro Eduardo Pazuello, e encaminhadas também para membros do Palácio do Planalto.
 

O Ministério da Saúde chegou a divulgar uma nota dizendo que "cláusulas leoninas" da empresa norte-americana criavam barreiras nas negociações. A pasta só firmou acordo com o laboratório em 19 de março deste ano, graças a uma lei de iniciativa do Congresso.
 

A resistência do governo em adquirir as vacinas da Pfizer possibilitou a abertura da porteira da Saúde para a série de negociações suspeitas na aquisição de imunizantes. Nesse intervalo, a pasta discutiu ofertas de vacinas com entregas improváveis, além da compra de germicida no auge da pandemia.
 

Segundo a Pfizer, a previsão é entregar todas as doses referentes ao primeiro contrato com o Ministério da Saúde até este domingo (3). Um novo compromisso foi assinado em maio para entrega de mais 100 milhões de doses.
 

No Brasil, já foram distribuídos 301 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 até a última sexta-feira (1°). Apesar da Pfizer liderar o número de entregas nos dois últimos meses, as vacinas da Fiocruz/AstraZeneca e do Instituto Butantan/Sinovac foram as mais distribuídas, na soma total, até o momento.
 

Nos quantitativos de distribuição estão as doses de contratos diretos do governo com os laboratórios, as que foram adquiridas através do consórcio Covax Facility e outras doadas ao PNI (Programa Nacional de Imunização).
 

Além disso, há 17 milhões de doses na pasta em fase de liberação da Pfizer, do Instituto Butantan, da Fiocruz e doses da Coronavac por meio do consórcio Covax Facility.
 

Em contratos já firmados diretamente com os laboratórios, a pasta ainda precisa receber 100 milhões de doses da Pfizer, 36,1 milhões da Janssen e 70 milhões da AstraZeneca. Há previsão de doses também por meio do consórcio Covax Facility e com contratos ainda em tratativa.
 

O Instituto Butantan, que também demorou a conseguir fechar contrato com a pasta por resistência do governo, finalizou a entrega dos 100 milhões de doses ao PNI, referentes a dois contratos.
 

Foi por causa da Coronavac que o país conseguiu começar a imunização em 17 de janeiro deste ano. A primeira pessoa escolhida foi a enfermeira Monica Calazans, em São Paulo.
 

Ela recebeu o imunizante depois que a Anvisa aprovou o seu uso emergencial. A profissional participou dos ensaios clínicos da vacina, mas estava no grupo placebo.
 

"O Ministério da Saúde informa que já foram contratadas mais de 600 milhões de doses de vacinas Covid-19 apenas neste ano. O quantitativo é suficiente para concluir a vacinação de toda a população brasileira com duas doses e a dose de reforço em idosos acima de 60 anos e imunossuprimidos", disse a pasta em nota.
 

No país, 93,3% da população com mais de 18 anos já recebeu ao menos uma dose (a primeira dose de alguma vacina ou o imunizante de dose única) e 57,1% (também com mais de 18 anos) recebeu as duas doses recebidas ou a dose única da Janssen.
 

Nas últimas semanas, adolescentes de 12 a 17 anos foram incluídos no grupo de vacinação pela pasta. Já os idosos a partir dos 60 anos, imunossuprimidos e profissionais de saúde passaram a receber doses de reforço.
 

Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), disse que a estratégia do Ministério da Saúde de fechar contrato com os laboratórios que tinham imunizantes disponíveis foi importante para garantir que o país ficasse abastecido durante todo o ano.
 

"Os números da pandemia ainda são preocupantes, mas bem melhor que cenários anteriores com a vacinação. Estamos diariamente fechando leitos porque o número de pacientes reduziu com o programa de imunização", disse.
 

Para o próximo ano, o Ministério da Saúde informou que mantém diálogo com laboratórios para analisar a aquisição de doses para um possível novo ciclo de imunização.
 

O ministro da Saúde substituto, Rodrigo Cruz, disse em reunião da Comissão Intergestores Tripartite, na quinta-feira (30), que o planejamento da vacinação para 2022 está caminhando.
 

"A gente já tem duas vacinas com registro definitivo da Anvisa, que são a AstraZeneca e a Pfizer. A gente tem caminhado em negociações com os laboratórios que já têm uma oferta para a gente", disse.
 

"Hoje, os estudos apontam necessidade de uma dose de reforço para a população vacinada. Por óbvio, a gente não tem garantia e no futuro isso pode ser alterado, mas em breve a gente vai trazer a notícia do nosso processo de planejamento de aquisição de vacina para 2022", finalizou.
 

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) reservou para compras de vacina contra a Covid-19 em 2022 um valor 85% menor do que o previsto para 2021.
 

De acordo com o Orçamento do ano que vem apresentado ao Congresso em agosto, serão R$ 3,9 bilhões para aquisição de imunizantes, contra R$ 27,8 bilhões autorizados para a mesma finalidade neste ano.